Ainda falta muito para que o acesso à internet no Brasil atinja o patamar de direito humano como reconhecido pela ONU desde 2011.
A investigação encontrou um perfil, ainda emergente, que trouxe mais novidades sobre o comportamento de estar fora das redes. Denominou-se de Nativos Sociais, o grupo de pessoas que não possui nenhuma barreira para acessar as redes, mas que escolhe não fazer parte das redes sociais. Em sua maioria ex-usuários das redes sociais, os Nativos Sociais são jovens, informados, que compram e acessam múltiplos serviços na internet. Ou seja, não são refratários às tecnologias e tão pouco eremitas do tecido social, mas a partir de más experiências dentro das plataformas sociais, desenvolveram motivações para deixar de participar das redes.
As pessoas que tomam essa decisão priorizam criar e arquitetar sua rede de relações sem os parâmetros das ferramentas digitais. Nas conversas com os Nativos apareciam vivências onde a falta do "olho no olho”, das nuances de tom de voz e expressão corporal causaram ruídos na comunicação. Também eram constantes as reclamações sobre a necessidade de estar sempre disponível e da urgência causadas por mensagens e notificações. Além disso, é possível notar que existe um sentimento de cansaço devido a alta energia e dispêndio de tempo necessários para a manutenção dos perfis nas redes sociais.
De uma forma mais ampla, os Nativos Sociais estão preocupados com a construção de suas relações, mais precisamente com a qualidade de suas relações interpessoais. Nesse sentido, os Nativos Sociais valorizam a presença concreta, mas é interessante notar que não se trata apenas de estar presente fisicamente, mas do mais puro estado de atenção. É nesse estágio de conexão que criam intimidade e vínculo emocional e, por isso, optam por construir suas relações mais artesanalmente.
A busca por um contato mais humanizado, por uma outra noção de tempo e urgência e pela elevação dos níveis de atenção e sinceridade nas relações são pontos de conexão na diversidade de argumentos apresentados pelos Nativos Sociais. Eles percebem as facilidades proporcionadas pela interação nas redes nos campos da comunicação e da informação. Ainda assim, decidem enfrentar os obstáculos criados pela subversão dessa nova norma dos relacionamentos apostando na criação de intimidade para a construção de conexões mais profundas. Conexões essas que propiciam um ambiente próspero para a conversa, a troca e a negociação. Essa abertura torna seu discurso muito mais empático e menos polarizado, mesmo em questões mais agudas como política e religião.
Com a trajetória do estudo entendeu-se que muitos dos usuários de redes sociais também compartilham das motivações que levam os Nativos Sociais para fora das redes. Muitos buscam mais consciência para utilizar essas ferramentas porque se sentem perdendo muito tempo nas timelines, ficando mais ansiosos pela hiper disponibilidade e pela falsa urgência gerada pelas notificações, assustados ou revoltados com as covardias praticadas por disseminadores de discursos de ódio e até mesmo por já terem vivido estremecimentos de relações próximas.
A evasão das redes sociais, principalmente do Facebook, é um movimento que já acontece nos Estados Unidos e na Inglaterra, onde esse movimento já ganhou até um nome: Logged Off Generation. Por isso, entende-se esse perfil como uma contra-tendência ao uso exacerbado das redes.